quinta-feira, 9 de abril de 2009

Isolamento urbano

Geórgia Pereira, Acadêmica de Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina - UEL.


Vivemos em “ilhas urbanas” regidas pela alta tecnologia. Esta, devido a sua inserção, interage com os grupos sociais e afeta as relações interpessoais, de forma que as pessoas podem até conversar mais, mas se vêem menos.

A massificação do dia-a-dia e a falta de habilidade para encontrarmos tempo de reunir os familiares e os amigos intensificam o surgimento do isolamento urbano.

Essa questão está presente num dos diálogos do filme “Crash – no Limite” (2004). O ator Don Cheadle como detetive Graham Waters discute tal problemática ao dizer que em grandes cidades como, Los Angeles, as pessoas se esbarram ao andar nas ruas com a intenção de aliviar a sensação de solidão e isolamento. Obras como o livro “Culturas Híbridas” (1998), de Nestor Garcia Canclini, também provocam questionamentos sobre esse tema: “As ruas tornaram-se saturadas de carros, de pessoas apressadas para cumprir obrigações profissionais ou para desfrutar uma diversão programada quase sempre conforme a renda econômica”.

Muitos, nas grandes cidades, restringem o dia-a-dia ao seu mundo fechado, “num infinito particular” que muitas vezes não deseja alterações. Não é novidade que viver no mundo on-line, de certa forma, favorece tal isolamento. Conectados 24 horas por dia, as pessoas podem comprar, vender, fazer transações bancárias, se comunicar, tudo via internet seduzidas pelas facilidades que ela oferece, sem sair de casa. A comunicação virtual configura um nível de interação diferente do que estamos acostumados gerando alterações nas relações pessoais, criando amigos e namoros cibernéticos, algo cada dia mais comum entre nós.

Perdeu-se a dimensão do que é privado e o que é publico numa sociedade que multiplica as formas de divulgar a vida, nos sites de relacionamento, como orkut, que detalham tudo sobre as pessoas, quando elas querem isso (o que ocorre na maioria das vezes), seja por foto, scraps ou pela descrição do perfil. Sem falar da existência dos blogs, contando acontecimentos e detalhes da vida, com centenas de fotos que ilustram a página. Para Canclini, “a mídia invade de tal forma as relações pessoais, e a cultura urbana de uma forma geral que fica fácil afirmar que ‘ participar’ é hoje relacionar-se com uma ‘democracia audiovisual’, na qual o real é produzido pelas imagens geradas na mídia”.

Certamente, essas formas de comunicação são resultados do avanço e do desenvolvimento das telecomunicações, das maneiras de se relacionar e se ligar à teia social. São frutos de uma sociedade voltada para o mundo on-line e que não há perspectivas de se desvencilhar dele, pelo menos num futuro próximo. O que se discute, no entanto, é como as pessoas correm o risco de perder a noção do que é particular num meio que incentiva cada vez mais o tornar-se público.

Canclini questiona, em determinados pontos da sua obra, a questão entre o compartilhado e o particular, e argumenta: “a urbanização predominante nas sociedades contemporâneas, se entrelaça com a serialização e o anonimato na produção com reestruturações da comunicação imaterial que modificam os vínculos entre o privado e o público”. O que era pra ser privado, sem querer se torna público, seja uma compra, um passeio, uma ida a locadora. As pessoas encontram-se tão isoladas nas suas casas, nos seus redutos casa-trabalho, que estão perdendo o convívio e todo e qualquer encontro serve de pretexto para saber um pouco da vida alheia, ou ainda, de certa forma tentar interagir com ela, pensar que você sabe e conhece fulano, apenas pelo fato de vê-lo saindo de casa com beltrano. Todas essas atitudes surgem em função da necessidade de interação que o ser humano tem, mesmo que ela não seja feita de forma tradicional, ou seja, pessoalmente.

Para quem gostou do assunto e deseja aprofundá-lo, fica a sugestão de leitura. O estudioso debate assuntos relacionados à cultura e sociedade da América Latina. A obra chama-se “Culturas Híbridas” e o autor Nestor Garcia Canclini.

“Ao vencedor, as batatas!” - Quincas Borba

Clarice Pessoa, graduada em Letras, professora da rede pública.


Como diz o próprio autor, Machado de Assis, "o livro anda devagar" e "o meu estilo" é "como os ébrios (bêbados), guinam à direita e à esquerda, andam e param...". E é mais ou menos assim que anda a narrativa de Quincas Borba.

O romance realista, de 1891, conta a vida de Rubião, um pacato professor de Barbacena, que se torna rico da noite para o dia ao receber uma herança deixada pelo filósofo Quincas Borba, criador de uma filosofia chamada Humanitismo. Rubião é nomeado herdeiro universal do filósofo sob a condição de cuidar de seu cachorro, Quincas Borba, com o mesmo nome do dono.

Rubião passa a viver no luxo da Corte do Rio de Janeiro, num ambiente a que não estava acostumado e que muito o deslumbra. Torna-se amigo de um casal, Cristiano Palha e Sofia. Ele se apaixona por Sofia. O amor era tão grande que Rubião foi obrigado a assumi-lo perante o objeto de desejo. Sofia recusa seu amor, mesmo tendo lhe dado esperanças tempos atrás, e conta o fato para Cristiano. Apesar de sua indignação, o capitalista continua a relacionar-se com Rubião, pois queria obter os restos da fortuna que ainda existia.

Palha faz uma proposta empolgante a Rubião: investir seu dinheiro na área de exportação. Empolgado com a esperança de multiplicar seu dinheiro, Rubião acaba caindo na armadilha do casal, que lhe dizem que outro negociador de "fora" os passou para trás e ficou com o dinheiro do investimento.

O amor de Sofia, não correspondido, aos poucos começa a despertar a loucura em Rubião. Já muito afetado pela doença, e de volta à sua cidade natal, relembra parte de uma explicação que lhe foi dada por Quincas Borba, e que habitou muito sua mente nos primeiros momentos quando soube que herdara toda fortuna do citado filósofo, diz: "Ao vencedor, as batatas".

Retoma-se, então, o Humanitismo. Que teoria é essa? É uma visão irônica das filosofias as quais pregam que a humanidade feita de uma só essência. A teoria dos Humanitas nasce em oposição ao Humanismo. Nesta, o homem é o centro de tudo e há uma total valorização dele. No Humanitismo aparece o pensamento pessimista e absurdo. O homem não aparece como um ser maravilhoso e perfeito, mas cheio de falsidades, em que um cão pode ser mais amigo e fiel do que o ser humano. A seguir, trechos do capítulo V ilustrando a relação de Quincas Borba, o filósofo, com seu cão Quincas Borba:
“— Desde que Humanitas, segundo a minha doutrina, é o princípio da vida e reside em toda parte, existe também no cão, e este pode ser assim receber um nome de gente, seja cristão ou muçulmano... O cão ouvindo, correu a cama. Quincas Borba, comovido, olhou para Quincas Borba:
— Meu pobre amigo! meu bom amigo! meu único amigo!”

O homem, para o Humanitismo, não significa nada; é falso, instável e fraco. Podemos notar isto nas personagens machadianas. Na luta pela sobrevivência quem vence é o mais forte, e não quem tem mais caráter. No trecho abaixo, do capítulo VI, a explicação da teoria:
“— Não há morte. O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas chegam apenas para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e irá à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”

Depois da morte de Quincas Borba, Rubião sente-se dono das batatas. É um vencedor. As batatas, para ele, representavam riqueza, posição social. Não sabia ele que, na realidade, representavam, simplesmente, meras batatas. Não tinham valor algum. Seriam, apenas, o veículo de sua destruição. E ele que até então não entendera a exposição do filósofo, passa a compreender a fórmula:
“— Ao vencedor, as batatas!
Tão simples! Tão claro! Olhou para as calças de brim surrado e notou que até há pouco foi, por assim dizer, um exterminado, um bolha; mas que ora não, era um vencedor. Não havia dúvida; as batatas fizeram-se para a tribo que elimina a outra para transpor a montanha e ir às batatas do outro lado. Justamente o seu caso. Ia descer de Barbacena para arrancar e comer as batatas da capital. Cumpria-lhe ser duro e implacável, era poderoso e forte. E levantando-se de golpe, alvoroçado, ergueu os braços exclamando:
— Ao vencedor, as batatas!” (Cap. XVIII)

A loucura de Rubião o levou à morte e foi comparada à mesma que causou o falecimento de Quincas Borba. Louco e explorado por várias pessoas, principalmente Palha e Sofia, Rubião morre na miséria e assim se exemplifica a tese do humanitismo.

A dica para download das obras completas de Machado de Assis é o site da biblioteca virtual do estudante brasileiro: http://www.bibvirt.futuro.usp.br

A linha tênue entre História e Literatura em “O Mez da Grippe”

Claudiana Soerensen, Mestre em Estudos Literários pela UFPR, Especialista em História do Brasil, Graduada em História e em Letras.

Entendendo que a história não recupera o real de um acontecimento passado, mas constrói um discurso sobre ele, e que este discurso é perpassado pela subjetividade daquele que o está compondo, esfacela-se a idéia de que a história é objetiva e totalizante. O recorte que se faz sobre determinado evento, as fontes utilizadas, a metodologia aplicada, os conceitos empregados, entre outros aspectos levados em conta na historiografia, explicita-se a parcialidade e a subjetividade quando da construção do discurso histórico, o que o aproxima de outras práticas discursivas.

Na condição de enunciado verbal (discurso), a história passa a ser um sistema autoconsciente de significação social tanto quanto a literatura. Nesta é possível encontrar “marcas do passado” capazes de refratar um dado contexto histórico de uma comunidade ou mesmo de uma sociedade. Abordado por diversos teóricos, o entrelaçamento entre as disciplinas encontra ressonância na teórica Sandra Pesavento a qual argumenta que a História e a Literatura “apresentam caminhos diversos, mas convergentes, na construção de uma identidade, uma vez que se apresentam como representações do mundo social ou como práticas discursivas significativas que atuam com métodos e fins diferentes”.

O cineasta, desenhista, jornalista e escritor Valêncio Xavier cria um enredo unindo diversos elementos na forma de texto-montagem mesclando as áreas de conhecimento histórico e literário. A obra “O Mez da Grippe”, com primeira edição em 1981 pela Fundação Cultural de Curitiba e reeditada pela Companhia das Letras em 1998, é construída como uma espécie de mosaico composto por elementos ficcionais e não ficcionais na forma de montagem textual.

O autor trabalha com fragmentos da realidade trazendo diversos ‘discursos alheios’ a partir de diferentes fontes: recortes de jornais, propagandas, poemas, canções, fotos, desenhos, documentos oficiais, relatos de sobreviventes. Com tal amplitude de recursos Xavier constrói um ‘discurso singular’ de fatos que se fixaram no imaginário local combinando informações de outrem no interior da obra, não extinguindo de todo a voz do autor, mas escamoteando-a, como faz, por exemplo, ao iniciar o livro com uma epígrafe lúgubre de Marquês de Sade, e que repercutirá em todo o livro como uma voz autoral e autoritária: “Vê-se um sepulcro cheio de cadáveres sobre os quais se podem observar todos os diferentes estados da dissolução, desde o instante da morte até a destruição total do indivíduo. Esta macabra execução é de cera, colorida com tanta naturalidade que a natureza não poderia ser, nem mais expressiva, nem mais verdadeira”.

A ambientação da obra é Curitiba, no Paraná, e o acontecimento histórico refratado é a gripe espanhola, que teve seu ponto culminante nesta cidade nos últimos três meses do ano de 1918. Junto a esse fato marcante e figurando fissura que também abala o cotidiano dos cidadãos curitibanos, o narrador de “O Mez da Grippe” descortina momentos da Primeira Guerra Mundial. Reelaborando os dois fatos o autor carnavaliza a História.

O termo carnavalização sugere, de chofre, a influência do carnaval na literatura e nas diferentes artes. O fenômeno do carnaval abrange, além de determinadas festividades associadas às comemorações sagradas, como o Corpus Christi, ocorridas na Idade Média e Renascimento, o período que antecede à Quaresma até hoje celebrado nas sociedades cristãs contemporâneas, e que se caracteriza pela suspensão temporária dos cerceamentos da vida cotidiana.

Para Bakhtin o carnaval constituía, concomitantemente, um conjunto de manifestações da cultura popular e um princípio de concepção ampla dessa cultura em termos de cosmovisão coerente e organizada. “Os ritos e os espetáculos carnavalescos ofereciam uma visão de mundo, do homem e das relações humanas totalmente diferentes, deliberadamente não oficial, exterior à Igreja e ao Estado; pareciam ter se constituído, ao lado do mundo oficial, um segundo mundo e uma segunda vida. Essa segunda vida da cultura popular constrói-se como paródia da vida ordinária, como um mundo ao revés”.

Em “O Mez da Grippe” o cotidiano curitibano é apresentado através da carnavalização das diferentes vozes recortadas e coladas – uma refração do momento histórico caótico vivido pela população daquela cidade, inclusive a voz do narrador é escamoteada e se mostra através de fragmentos esparsos de um poema que se estende do início ao fim da obra. Ao deslocar o eixo e suas possibilidades de construção de sentidos para uma multiplicidade de autores e suas vozes, a instância autoral focaliza a imagem do híbrido no conjunto da obra.

As várias vozes, os vários registros e suas fontes textuais na ficção tornam atuais as reflexões de Barthes e Rifaterre, citados por Linda Hutcheon: "Na verdade, uma obra literária já não pode ser considerada original; se o fosse, não poderia ter sentido para seu leitor. É apenas como parte de discursos anteriores que qualquer texto obtém sentido e importância”. Tal afirmação projeta a aproximação entre os estudos da teoria literária e seus desdobramentos e a teoria da História, pois é decisiva para a abordagem de textos que problematizam os limites da linguagem, das tipologias textuais e a originalidade de obra, sobretudo no contexto considerado por alguns, e questionados por muitos, como pós-moderno.

Ao ler a obra de Valêncio Xavier, percebemos diferentes vozes presentes, os intertextos, a apropriação e a refiguração de textos. O autor recontextualiza-os, recombina-os, funde-os e o resultado é um novo texto. O processo de montagem e colagem utilizado decorre de um princípio estilístico o qual faz explodir o documento xaveriano com outras possibilidades estéticas.

O texto literário “O Mez da Grippe” questiona a rigidez do discurso factual da História, pois ao construir um mosaico interdiscursivo literário problematiza a prática discursiva histórica. Ao ficcionalizar um fato histórico, Xavier minimiza a dicotomia fato versus ficção uma vez que acentua o caráter textual/discursivo de ambos. A obra revela-se um misto de História, Literatura e teoria – uma das características apontadas como constitutiva da pós-modernidade - pois reflete seu processo constitutivo e tem o múltiplo como particularidades.

O livro pode ser lido como um mosaico carnavalesco composto de diferentes fragmentos, que reunidos, formam a imagem do conjunto. Embora possam transmitir idéias específicas, cada porção reclama o todo, como uma novela que tem sua progressão através da reunião das células dramáticas. Nesse mosaico, vozes se confrontam e reverberam num eco que reivindica a unidade.

Por meio de sua obra, Valêncio Xavier carnavaliza o conceito de História factual através do discurso literário e assim a história perde seu caráter supostamente dogmático e imparcial esfacelando-se em múltiplas perspectivas historiográficas e analíticas as quais iniciam em um mesmo ponto que a literatura – as práticas discursivas (e por vezes imagéticas) -, mas que seguem caminhos distintos.

Colcha de retalhos...

Claudiana Soerensen, Mestre em Estudos Literários pela UFPR, Especialista em História do Brasil, Graduada em História e em Letras.

Simone de Beauvoir em “Todos os homens são mortais” poetisou:"tudo que se faz acaba se desfazendo, eu sei. E a partir da hora que se nasce, começa-se a morrer. Mas entre o nascimento e a morte há a vida". A vida percorrida é história, é ficção, é memória, é a síntese do paradoxo “existir”.

Em uma das obras poéticas mais importantes da Antiguidade romana, “Metamorfoses”, o poeta latino Ovídio traduziu sentimentos que experimentamos diante da mudança, da renovação e da repetição, do nascimento e da morte das coisas e dos seres humanos. Na parte final de sua obra, lemos: “Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio... O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova.

Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite... Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida? Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... a planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente.

Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso... E também a natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... todos os seres têm sua origem noutros seres.

Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outros cinco séculos... Assim também é a natureza e tudo o que nela existe e persiste”.

Colcha de retalhos (1995), filme de Jocelyn Moorhouse, traz como protagonista uma jovem que prepara sua tese e, ao mesmo tempo, seu casamento. Vivendo na casa da avó, a garota ouve as histórias vividas por amigas da família, à medida que uma colcha de retalhos é tecida como presente de casamento. Os sentimentos são representados pelos retalhos e constroem novas perspectivas para a protagonista, a qual passa a questionar a própria vida e o conhecimento que tem acerca do mundo.

São esses retalhos – sentimentos amalgamados - que tecem nossa vida. Construímos nossa “história” reunindo pequenos “contos” vividos por nós e por outros. A vida acaba sendo uma imensa colcha de retalhos - fragmentos que formam um todo. Cada retalho acrescido na colcha da vida, revela novas facetas, desperta novos sentimentos, mostra novas veredas.

Carlos Drummond de Andrade, em genial e deliciosa inspiração, concedeu face a esse espaço de tempo que chamamos de ano: “Quem teve idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com um outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente”.

As poéticas palavras de Raduan Nassar, em “Lavoura Arcaica”, juntam-se também a nossa colcha de retalhos: “[...] caprichoso como uma criança, não se deve contudo retrair-se no trato do tempo, bastando que sejamos humildes e dóceis diante de sua vontade, abstendo-nos de agir quando ele exigir de nós a contemplação, e só agirmos quando ele exigir de nós a ação, que o tempo sabe ser bom, o tempo é largo, o tempo é grande, o tempo é generoso, o tempo é farto, é sempre abundante em suas entregas: amina nossas aflições, dilui a tensão dos preocupados, suspende a dor aos torturados, traz a luz aos que vivem nas trevas, o ânimo aos indiferentes, o conforto aos que se lamentam, a alegria aos homens tristes, o consolo aos desamparados, o relaxamento aos que se contorcem, a serenidade aos inquietos, a umidade às almas secas; satisfaz os apetites moderados, sacia a sede aos sedentos, a fome aos famintos, dá a seiva aos que necessitam dela, é capaz ainda de distrair a todos com seus brinquedos; em tudo ele nos atende, mas as dores da nossa vontade só chegarão ao santo alívio seguindo esta lei inexorável: a obediência absoluta à soberania incontestável do tempo, não se erguendo jamais o gesto neste culto raro”.

Estamos na última fatia de 2007. Há alguns prestes a desistir de tudo. Outros exaustos, mas prontos para renovar-se. Há aqueles, no liame entre o ótimo e o excelente. Experenciamos e experimentamos as doze fatias de forma múltipla. Nem sempre felizes, nem sempre tristes, nem sempre equilibrados. O importante é chegar ao final de cada ano e não cantar “Epitáfio” (“Queria ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer”...).

Não deixe o acaso guiar a vida, mas respeite o tempo (o seu e o do outro). A literatura, a história, a natureza, e, principalmente, o ser humano – que escrevem, traduzem, interpretam, relêem, acolhem e transformam esses compostos heterogêneos e temporais -, fundamentam o trajeto entre o “nascimento e a morte”: a vida.

Como afirmou Theodore Roosevelt: “É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os “pobres de espírito” que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta que não conhece vitória, nem derrota”.

“Memórias de um Sargento de Milícias” – Romântico ou Realista?

Claudiana Soerensen, Mestre em Estudos Literários pela UFPR, Especialista em História do Brasil, Graduada em História e em Letras.

Nascido no Rio de Janeiro em 1831, Manuel Antônio de Almeida teve existência breve, pois morre tragicamente em 1861, com apenas 30 anos de idade, vítima de um naufrágio na Baía de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina, mas nunca clinicou. Para manter os estudos, traduzia folhetins franceses, escrevia crônicas e críticas para o “Correio Mercantil”. Em 1858, Almeida foi nomeado diretor da Tipografia Nacional, ocasião em que teve oportunidade de auxiliar o então tipógrafo Joaquim Maria Machado de Assis, mais pobre e desvalido que ele.

“Memórias de um Sargento de Milícias”, única obra de Almeida, foi publicada, sob anonimato, em folhetins (publicação semanal), no suplemento dominical “A Pacotilha” do jornal em que trabalhava, entre 1852 e 1853. Pouco tempo depois, o romance foi publicado em forma de livro, em dois volumes, respectivamente em 1854 e 1855, assinada com o pseudônimo “Um Brasileiro”.

O livro de Manuel Antônio inova pela linguagem realista e satírica, que não correspondia muito ao gosto da época, motivo pelo qual não teve muita aceitação e parecia mesmo que estava fadado ao esquecimento, entretanto, o tempo encarregou-se de valorizá-lo e, se não chegou ao sucesso estrondoso, continua vivo pelos anos afora.

A obra é dividida em duas partes: a primeira com vinte e três capítulos e a segunda com vinte e cinco. Inicia-se com a frase “Era no tempo do rei”, que situa a narrativa no século XIX, no Rio de Janeiro. Conta a vinda de Leonardo-Pataca para o Brasil. Ainda no navio, namora com a conterrânea Maria da Hortaliça. Daí resultou a união e “sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu, mamou duas horas seguidas sem deixar o peito”.

Passado alguns anos de convivência Leonardo-Pataca descobre que Maria da Hortaliça o traía com vários homens, dá-lhe uma surra e ela foge com um capitão de navio para Portugal. O filho Leonardo é abandonado pelos pais e o Compadre barbeiro e a Comadre parteira – padrinhos do menino – se encarregam dele.

Na primeira parte do livro o leitor acompanha o crescimento do herói; a infância rica em travessuras; a adolescência com as primeiras ilusões amorosas e as aventuras movimentadas. Essa parte encerra-se com a declaração de amor, toda desajeitada, depois de muitas tentativas e retrocessos, de Leonardo à Luisinha.

Na segunda parte do livro, o padrinho de Leonardo morre, e ele tem que voltar a viver com o pai, Leonardo- Pataca. Acaba não se dando bem com sua nova madrasta e após uma discussão, foge de casa.

Leonardo vai viver com um amigo, em uma casa bastante agitada e com muita gente. Acaba se apaixonando por Vidinha. O amor é recíproco. Porém, esse namoro não agrada aos dois primos da moça, que têm intenções de se casar com ela. Para tirar Leonardo do caminho, eles vão até o Major Vidigal, espécie de chefe de polícia e juiz da cidade, e acusam Leonardo de vadiagem. Vidigal prende Leonardo quando ele, Vidinha, e seus dois primos saem para um passeio noturno. Mas no caminho até a delegacia, ele consegue fugir. Mais tarde, Leonardo arruma um emprego na Ucharia Real. Dessa forma, Vidigal não poderia prendê-lo.

Logo o protagonista se envolve com a mulher do "toma-largura" (funcionário público humilde), é demitido e preso. Enquanto isso, José Manuel e Luisinha se casam, porém ele a trata muito mal. Vidinha, com ciúmes de Leonardo, vai tomar satisfações com a mulher do "toma-largura". Mas, o que acaba acontecendo, é que o "toma-largura" se interessa por Vidinha. Enquanto isso, por saber muito sobre a vida marginal, Leonardo vira policial. Porém, Leonardo, pelo seu gosto por travessuras e muitas vezes pelo seu bom coração, acaba protegendo e ajudando os bandidos. Vidigal o prende.

A comadre, em desespero, tenta de todas as formas a libertação de Leonardo, mas tudo em vão, até ela conhecer Maria-Regalada, velho amor de Vidigal. Juntas não só conseguem a libertação de Leonardo, como sua promoção a sargento. E isso tudo vem em boa hora, já que com a morte de José Manuel, Luisinha agora viúva, está livre para se casar com Leonardo.

Existe, entre os críticos literários, considerável discussão sobre a escola literária a que pertence “Memórias de um Sargento de Milícias”. No final do século XIX, o crítico José Veríssimo interpretou a obra como um romance pré-realista, em virtude de sua inclinação para o retrato social e da extinção do maniqueísmo das personagens (divididas em boas ou más).

Depois Mário de Andrade aproximou-a do romance picaresco espanhol (em que a personagem vive ao sabor do acaso), idéia refutada pelo crítico contemporâneo, Antonio Candido, quando analisa o livro de Almeida em “Dialética da malandragem”: “O malandro, como o pícaro, é espécie de um gênero mais amplo de aventureiro astucioso, comum a todos os folclores”, porém, ao contrário dos pícaros “cujas malandragens visam quase sempre ao proveito ou a um problema concreto, lesando freqüentemente terceiros na solução”, Leonardo encaixa-se na categoria dos malandros, pois é um misto de “boa vida” esperto e tolo ao mesmo tempo.

“Memórias de um Sargento de Milícias” rompe com a tradicional postura idealizadora do narrador romântico, em relação aos indivíduos e também à terra. O narrador transita da terceira para a primeira pessoa. Ele também assume uma cumplicidade de caráter metalingüístico com o leitor, o que significa um anúncio de procedimentos de Machado de Assis – autor do Realismo, percebido nas conversas com o leitor e nos comentários irônicos que faz a propósito do que conta.
Outro aspecto que questiona a classificação de obra do Romantismo, relaciona-se ao fato de que as temáticas de “Memórias” não se enquadram em nenhuma das racionalizações ideológicas reinantes na literatura romântica brasileira de então: indianismo, nacionalismo, grandeza, sofrimento, redenção pela dor, pompa do estilo etc.

Também não há idealização das personagens, mas observação direta e objetiva. Presença de camadas inferiores da população (barbeiros, comadres, parteiras, meirinhos, "saloias", designados pela ocupação que exercem). As personagens não são heróis nem vilões, praticam o bem e o mal, impulsionadas pelas necessidades de sobrevivência (a fome, a ascensão social) – outro aspecto do Realismo.

O “happy end” (final feliz) é apontado como uma das principais características românticas da obra. Apesar de Leonardo passar por inúmeras peripécias, supera todas as dificuldades. Triunfa o bem e o primeiro amor. O “anti-herói” quase perde sua amada, mas acaba recuperando-a – quando ela fica viúva do primeiro marido – ao final do livro. Antonio Candido é um dos críticos que defende a inserção da obra no cânone do Romantismo, embora deixe claro que “Memórias de um Sargento de Milícias” apresenta certa excentricidade em relação às demais narrativas românticas do período.

“Marília de Dirceu”, Tomás Antonio Gonzaga e o Arcadismo

Claudiana Soerensen, Mestre em Estudos Literários pela UFPR, Especialista em História do Brasil, Graduada em História e em Letras.

O Arcadismo, escola literária contemporânea ao movimento intelectual iluminista, veio em oposição ao Barroco decadente, no século XVIII. Nesse cânone são retomados os ideais clássicos, originando a expressão Neoclassicismo, muitas vezes tomada como sinônimo de Arcadismo.

Segundo uma lenda grega, a Arcádia era uma região rural, dominada pelo deus Pan, onde pastores e pastoras levavam suas ovelhas e se divertiam cantando, fazendo poesia e amando-se à natureza. Assim, a expressão ganhou tom de "lugar ideal" durante o Renascimento, e no século XVIII, passou a designar associações de poetas, que se reuniam a fim de propagar os ideais neoclássicos e combater o Barroco. Tanto combatiam que a Arcádia Lusitana tinha como lema "Inutilia Truncat" - "corta o inútil”. As várias expressões em latim refletem as características das obras árcades.

A obra árcade “Marília de Dirceu”, do poeta Tomás Antonio Gonzaga, constitui-se como emblema do cânone árcade, pois incorpora todas as características deste. Ela pode ser encontrada integral e gratuitamente no site da biblioteca virtual da Universidade de São Paulo http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/literatura e é solicitada pelo vestibular da Universidade Estadual de Maringá.

Gonzaga nasceu na cidade do Porto, em Portugal, em agosto de 1744 e faleceu em fevereiro de 1810, na Ilha de Moçambique onde cumpriu pena de degredo. Depois de formado em Direito em seu país natal exerceu alguns cargos de natureza jurídica e em 1782 é indicado para ocupar o cargo de Ouvidor Geral na comarca de Vila Rica (Ouro Preto), na Capitania de Minas Gerais.

O poeta, já com quase quarenta anos de idade, apaixonou-se por uma adolescente de dezessete – Maria Dorotéia Joaquina de Seixas. A família da moça fazia forte oposição ao namoro. E quando tal oposição já estava praticamente vencida por Gonzaga, ele foi preso e enviado a Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, acusado de participação na Inconfidência Mineira. Passou os últimos dezessete anos de sua vida no degredo, em Moçambique, casado com a filha de um comerciante de escravos, Juliana de Sousa Mascarenhas, com quem teve um casal de filhos.

Mesmo nunca tendo se casado com Maria Dorotéia, Tomás fez desse romance o primeiro mito amoroso de nossa literatura e criou uma de nossas mais belas obras líricas, Marília de Dirceu. Nela o pastor Dirceu confessa seu amor à pastora Marília, em evidente projeção do drama vivido por ele, Tomás, e por Maria Dorotéia. O livro é dividido em três partes, cada uma subdividida em liras (várias estrofes). Escrito em épocas diferentes, sendo a primeira parte escrita antes do tempo de aprisionamento de Gonzaga em 1792, a segunda durante o tempo de prisão em 1799, e a terceira, considerada por alguns ilegítima, não tem data específica. Alguns autores creditam-na a 1812, a partir da Impressão Régia.

Na literatura árcade o poeta tem a preocupação constante em passar a busca pela clareza, simplicidade e equilíbrio. Para isso usa como pano de fundo a natureza e o bucólico (pastoril), ambos responsáveis pelo resgate dos sentimentos corroídos pelo progresso. “Marília de Dirceu” reflete o “locus amoenus”, isto é, o lugar calmo, ameno, longe do burburinho citadino, como sugere o trecho seguinte: “Acaso são estes / Os sítios formosos. / Aonde passava / Os anos gostosos? / São estes os prados, / Aonde brincava, / Enquanto passava / O gordo rebanho, / Que Alceu me deixou? / São estes os sítios? / São estes; mas eu / O mesmo não sou. / Marília, tu chamas? Espera, que eu vou.”

Nos versos “Os pastores, que habitam este monte, / respeitam o poder do meu cajado” eu-lírico mostra poder diante dos demais habitantes da região e é respeitado como tal. Nesses, “Eu vi o meu semblante numa fonte, / Dos anos inda não está cortado”, percebe-se o retorno à mitologia grega com a lembrança do mito de Narciso, que se envaidecia ao ver-se refletido na água. O eu-lírico também se olha e se admira por ainda não possuir rugas apesar de ser mais velho que a jovem Marília.

A idealização da mulher para o eu-lírico é essencial, assim as sensações imediatas são muito importantes para a conquista, pois ela ficará fascinada com palavras que a valorizem. Ele usa um excesso de metáforas ao longo de toda a estrofe posterior comparando Marília com a luz divina, o sol, a rosa, a neve, o ouro, o balsamo, o tesouro. “Os teus olhos espalham luz divina, / A quem a luz do Sol em vão se atreve: / Papoula, ou rosa delicada, e fina, / Te cobre as faces, que são cor de neve. / Os teus cabelos são uns fios d’ouro; / Teu lindo corpo bálsamos vapora. / Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora, / Para glória de Amor igual tesouro. / Graças, Marília bela, / Graças à minha Estrela!”

A estrofe “Irás a divertir-te na floresta, / Sustentada, Marília, no meu braço; / Ali descansarei a quente sesta, / Dormindo um leve sono em teu regaço: / Enquanto a luta jogam os Pastores, / E emparelhados correm nas campinas, / Toucarei teus cabelos de boninas, / Nos troncos gravarei os teus louvores. / Graças, Marília bela, / Graças à minha Estrela!” reflete a “fugere urbem” – fuga do urbano/citadino, pois o eu lírico nos mostra que é possível ter uma vida simples no campo, longe de toda complicação da cidade. A amada terá uma vida plena, feliz, aconchegante e protegida de tudo, se ficar com ele e acalenta-lo, aí vemos o “locus amoenos”.

O crítico literário Antônio Candido dedica um capítulo de seu livro “Formação da Literatura Brasileira” volume I, à produção lírica de Gonzaga e começa seus comentários afirmando ser impossível compreender tal produção se não se tem em vista que ela surge da experiência pessoal do poeta, do fato de ele ter se apaixonado por Dorotéia, e conhecido Cláudio Manuel da Costa, o árcade que trouxe ninfas para os ribeirões das Minas Gerais. Gonzaga surge como um grande poeta (um dos maiores da literatura nacional, segundo Candido) justamente num período de crise afetiva e política, e graças à convivência com o inaugurador do Arcadismo Brasileiro.

Se Cláudio, poeta importante para Gonzaga, por ser um criador de parâmetros poéticos árcades, foi um artesão da palavra que trabalhou durante anos a fio, Gonzaga expande seu talento num intervalo de tempo preciso, de 1782 a 1792, em que vivia em conturbado momento político – Inconfidência Mineira, e a paixão por Maria Dorotéia. Fica a certeza de que a Literatura brasileira, para Antônio Candido, tal qual a conhecemos hoje, seria muito mais pobre e teria tomado outros rumos se Tomás Antônio Gonzaga tivesse resistido aos “efeitos de amor” pela bela e inesquecível Marília, ou não tivesse convivido com o fundador da Arcádia Ultramarina em Vila Rica, Cláudio Manuel da Costa.